Comecemos, em nossa reflexão, pela frase com a qual Jesus, no Evangelho, tranquiliza os discípulos de João Batista acerca do próprio messianismo: “anuncia-se aos pobres a Boa Nova”. O Evangelho é uma mensagem de alegria: a liturgia do terceiro domingo do Advento proclama isso e, é pelas palavras de Paulo na antífona de entrada que tomou o nome de domingo “Gaudete”, “estai sempre alegres”, ou seja, domingo da alegria: “Que o deserto e o terreno seco se alegrem… Eles se alegrarão com gozo e alegria… na cabeça, alegria perpétua; seguindo-os, gozo e alegria. Pena e aflição se afastarão”.
Todos querem ser felizes. Se pudéssemos representar visivelmente toda a humanidade, em seu movimento mais profundo, veríamos uma imensa multidão erguer-se em torno de uma árvore frutífera sobre a ponta dos pés e estender desesperadamente as mãos, no esforço de tomar um fruto que, no entanto, escapa de suas mãos. A felicidade, disse Dante, é esse doce fruto que o homem busca entre os ramos da vida.
Mas se todos nós buscamos a felicidade, por que tão poucos são verdadeiramente felizes e até os que o são permanecem assim por tempo tão escasso? Creio que a razão principal é que, na escalada ao cume da felicidade, erramos de vertente; escolhemos o que não leva ao cume. A revelação diz: “Deus é amor”; o homem creu que pode dar a volta à frase e dizer: “O amor é Deus!” (a afirmação é de Feuerbach). A revelação diz: “Deus é felicidade”; o homem inverte de novo a ordem e diz: “a felicidade é Deus!”. E o que acontece aí? Não conhecemos na terra a felicidade em estado puro, como não conhecemos o amor absoluto; conhecemos só fragmentos de felicidade que reduzem com freqüência à embriaguez passageira dos sentidos.
Por isso, quando dizemos “a felicidade é Deus!”, divinizamos nossas pequenas experiências; chamamos “Deus” à obra de nossas mãos ou de nossa mente. Fazemos da felicidade um ídolo. Isso explica por que quem busca Deus encontra sempre a alegria, enquanto quem busca a alegria nem sempre encontra a Deus. O homem se reduz a buscar a felicidade por motivo de quantidade: seguindo prazeres e emoções cada vez mais intensos, ou acrescentando prazer a prazer. Como o dependente químico que precisa de doses cada vez maiores para conseguir o mesmo grau de prazer.
Só Deus é feliz e nos faz felizes. Por isso um salmo exorta: “Tem tua alegria no Senhor e escutará o que peça teu coração” (Sal 37, 4). Com ele também os gozos da vida presente conservam seu doce sabor e não se transformam em angústias. Não só os gozos espirituais, mas toda alegria humana honesta: a alegria de ver crescer os próprios filhos, do trabalho felizmente levado a término, da amizade, da saúde recuperada, da criatividade, da arte, do lazer em contato com a natureza. Só Deus pôde arrancar dos lábios de um santo o grito: “Basta, Senhor, de alegria; meu coração já não pode conter mais!”. Em Deus se encontra tudo o que o homem costuma associar à palavra felicidade e infinitamente mais, pois “nem olho viu, nem ouvido ouviu, nem ao coração do homem chegou, o que Deus preparou para quem que o ama” (1 Co 2, 9).
É hora de começar a proclamar com mais valor a “Boa Nova” de que Deus é felicidade, que a felicidade – não o sofrimento, a privação, a cruz – terá a última palavra. Que o sofrimento só serve para tirar o obstáculo da alegria, para dilatar a alma, para que um dia possa acolher a maior medida possível.
Fonte: Comunidade Shalom
É hora de proclamar que Deus é felicidade!
Reviewed by Equipe Redação
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dezembro 13, 2019
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