Desde o início do cristianismo Nossa Senhora era cultuada como “Áiepartenon”, isto é, a “sempre Virgem”.
A virgindade eterna de Maria é facilmente demonstrável, quer seja pela Sagrada Escritura ou pela Tradição, quer seja pela lógica.
O que devemos provar: a) Nossa Senhora era Virgem antes do parto; b) Nossa Senhora permaneceu Virgem durante o parto e c) Nossa Senhora permaneceu virgem após o parto.
Três asserções que vou provar aqui com a Bíblia na mão, e um pouco de lógica na cabeça. Aliás, a terceira já está provada pela própria explicação dos irmãos de Jesus. Todavia, vamos aprofundar mais um pouco a análise.
Nossa Senhora era Virgem antes do parto
A primeira asserção é admitida pelos próprios protestantes, pois se encontra positivamente no Evangelho: “O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma virgem desposada… e o nome da Virgem era Maria”. (Luc. I, 26).
Mais positivo ainda é o testemunho da própria Virgem objetando ao anjo: “Como se fará isso, pois eu não conheço varão?”. Nenhuma dúvida subsiste – Maria Santíssima era Virgem.
Nossa Senhora permaneceu Virgem durante o parto
A segunda asserção, mostrando que a Mãe de Jesus ficou virgem no parto, pode deduzir-se dos mesmos textos. O que é concebido por milagre deve nascer por milagre; o nascimento é a conseqüência da concepção; sem esta conseqüência, o milagre seria incompleto. Em outras palavras, Deus teria operado um milagre incompleto ao desejar manter a virgindade de Nossa Senhora e não tendo levado essa promessa até o final. “Como se fará isso, pois eu não conheço varão?” “O Santo, que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus, porque a Deus nada é impossível” (Luc 1, 35). A Deus nada é impossível, a virgindade de Nossa Senhora seria preservada, mesmo ela “não conhecendo varão”.
Continuamos na argumentação. O Evangelho nos mostra que Maria, tendo chegado ao termo ordinário da natureza, “deu à luz o seu filho. E estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz” (Luc. 1, 6).
Ora, “conceber” e “dar à luz” são dois termos de uma ação única. A mãe concebe, para dar à luz – é uma só ação: gerar filhos. O parto e a conceição são inseparavelmente ligados, sendo o primeiro o preço doloroso da segunda (perder a virgindade); sendo Maria Santíssima libertada da segunda parte, por meio do milagre de Deus, deve sê-lo da primeira, pois para Deus não é mais custoso fazer “nascer” virginalmente do que fazer “conceber” virginalmente.
Ademais, se a ação virginal havia começado, pela ação do Espírito Santo, Deus completaria essa ação no momento em que esta chegasse ao seu final. É uma conseqüência lógica e necessária, sob pena de negar o milagre completo de Deus manifestado em sua vontade e na resolução de Nossa Senhora de manter a virgindade.
A própria dúvida de Nossa Senhora em relação à concepção deixa claro a posição dela perante a virgindade: “Como se fará isso, pois eu não conheço varão?”. O Anjo resolve o problema: “O Santo, que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus, porque a Deus nada é impossível” (Luc. 1, 35).
A conceição da Virgem Santíssima é, pois, obra do Espírito Santo: “O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. E por isso mesmo o santo que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus.” (Luc. 1, 35).
“Conceber” Jesus e “dá-lo à luz” são, textual e literalmente, um só milagre, o milagre da encarnação. Separar estes dois termos, que o Evangelista resumiu de propósito numa única frase, é adulterar de maneira visível o texto e a significação da palavra de Deus.
Sendo Nossa Senhora virgem antes do parto, deve sê-lo também durante o parto, pois o milagre da encarnação é uno e completo. E isto é muito conforme à profecia: “uma virgem conceberá e dará à luz”. É o próprio Evangelho que faz a aplicação desta profecia: “Ora, tudo aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor, por meio do profeta” (Mat. 1, 22). Ou seja, conceber e dar à luz, virginalmente!
A Virgindade de Nossa Senhora antes e durante o parto é uma verdade que não se pode negar, senão espezinhando-se todas as regras da lógica e da hermenêutica. Deus quis manter a virgindade de Nossa Senhora antes e durante o parto, não o precisava, mas assim o fez.
Nossa Senhora permaneceu virgem após o parto
Sobre a virgindade de Nossa Senhora após o parto, já provamos anteriormente. Todavia, para dar mais realce à explicação, façamos um pequeno exercício de hermenêutica.
Quando Nossa Senhora afirma, categoricamente, “eu não conheço varão”, ela não está dizendo que “até o momento eu não conheço”, mas que ela, por opção pessoal, não “conhece varão”, o que dá uma extensão geral à sua afirmação.
Segundo a tradição, Nossa Senhora havia feito um voto de castidade perpétua e assim o manteve, mesmo vivendo com S. José, como fica clara pela própria afirmação dela (“Eu não conheço varão”), quando já estava desposada de S. José.
Se não fosse propósito de Nossa Senhora manter a castidade perpétua, sua afirmação não teria propósito, pois o Anjo poderia lhe responder: “se ainda não conhece, conhecê-lo-á logo; não é José teu esposo? “. A sua afirmação só faz sentido, dentro do contexto, tendo Nossa Senhora feito o voto de castidade perpétua.
S. Marcos, na mesma linha, chama Jesus “O filho de Maria” – “uiós Marias” – (Marc. 6, 3), e não um dos filhos de Maria, como querendo mostrar que ele era o seu filho único.
Desfazendo objeções protestante: “antes de coabitarem”, “filho primogênito” e “não a conhecia até que ela desse à luz”
a) “antes de coabitarem”
S. Mateus: “Maria, sua Mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, ela concebeu por virtude do Espírito Santo” (Mt 1, 18). Ora, “antes de coabitarem” significa apenas “antes de morarem juntos na mesma casa”. Isso aconteceu quando “José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa (Maria)”(Mt 1, 24)
b) “filho primogênito”
S. Lucas: “Maria deu à luz o seu filho primogênito” (Lc 2, 7). Explicação: É errado concluir que devia seguir o segundo filho. A lei de mosaica exige que todo o primogênito seja consagrado a Deus, quer seja filho único ou não: “Consagrar-me-ás todo o primogênito (primeiro gerando) entre os israelitas, tanto homem como animal: ele é meu” (Ex 13, 2). Um exemplo elucidativo encontrado no Egito, retirado de uma inscrição judaica: “Arisoné entre as dores do parto morreu ao dar à luz seu filho primogênito”. Ou no Êxodo, quando Deus disse: “Todo o primogênito na terra do Egito morrerá” (Ex 11, 5). E assim aconteceu. “Não havia casa em que não houvesse um morto” (Ex 11, 30). Necessariamente, havia, como em todos os países, casais de um só filho; por exemplo, todos os que se tinham casado nos últimos anos…
Depois, em outro trecho, Deus ordena: “contar todos os primogênitos masculinos dos filhos de Israel, da idade de um mês para cima” (Num 3, 40). Ora, se há primogênito de um mês de idade, como é que se pode exigir que, para haver primeiro, haja um segundo?
Logo, há primogênito sem que haja, necessariamente, um segundo filho.
A primogenitura era um título de dignidade e de honra entre os Judeus. Geralmente, o filho, primeiro, tinha direito a certos privilégios, como os de herdeiro etc, ficando sujeito a certas obrigações, como vemos na Bíblia. (Lc 2, 23)
É, portanto, de propósito e com razão que o Evangelista chama Jesus: “primogênito” – “ton protótokon”. Designa-o, deste modo, como herdeiro de David, como tendo um direito privilegiado sobre esta herança (cf Gen 10, 15 – 21, 12).
E é isso que se pode verificar na apresentação de Jesus no templo: “Depois que foram concluídos os dias da purificação de Maria, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor: Todo o varão primogênito será consagrado ao Senhor” (Lc 2, 22)
Essa passagem é muito clara e resolve de uma vez a discussão sobre a “primogenitura” de Nosso Senhor, pois a apresentação no templo ocorreu apenas 40 dias após o seu nascimento, como filho único de Nossa Senhora.
c) “não a conhecia até que ela desse à luz”
Em algumas traduções, aparece em S. Mateus: “José não conheceu Maria (= não teve relações com ela) até que ela desse à luz um filho (Jesus)”. (Mt 1, 25). Explicação: Seria errado insinuar que depois daquele “até” José devia “conhecer” Maria”. “Até”, na linguagem bíblica, refere-se apenas ao passado. Exemplo: “Micol, filha de Saul, não teve filhos até ao dia de sua morte” (II Sam 6, 23). Ou então, falando Deus a Jacob do alto da escada que este vira em sonhos, disse-lhe: “Não te abandonarei, enquanto não se cumprir tudo o que disse” (Gen 28, 15). Quererá isso dizer que Deus o abandonaria depois? Em outra passagem, Nosso Senhor diz aos seus Apóstolos: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20).
Ora, o texto sagrado deixa claro que a palavra “até” é um reforço do milagre operado, a saber, a encarnação do verbo por obra do Espírito Santo, e não por obra de um homem (S. José).
A perpétua virgindade da Santíssima Virgem
Reviewed by Equipe Redação
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janeiro 29, 2020
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